Canabinoides: conheça os benefícios da substância para fins medicinais

24/05/2021

Você sabe o que é canabinoide? Esse é um tema importante e atual — afinal, o mercado de uso medicinal da Cannabis pode movimentar até R$ 4,6 bilhões no Brasil em alguns anos, abrindo um leque de oportunidades para profissionais da área da saúde.

Esse fato é um reflexo do uso e do conhecimento milenar em torno da planta — que é datado de 2.737 AC, na China. Na época, ela era usada no tratamento de problemas como malária, gota e reumatismo.

Hoje, a ciência já mostra que o uso da cannabis medicinal aborda centenas de outras enfermidades e patologias, como ansiedade, dor crônica, fibromialgia, psoríase, diabetes, entre outras.

Desse modo, é fundamental entender o papel do profissional de saúde na compreensão dessa farmacopeia. Boa leitura!

O que são canabinoides?

Os canabinoides ficaram conhecidos na década de 1960, por meio do Dr. Raphael Mechoulam, um professor israelense. São compostos por diversas moléculas que atuam nos receptores do Sistema Endocanabinoide. Em geral, um canabinoide é produzido tanto em mamíferos quanto em plantas e vegetais.

Essa classe química gera algumas polêmicas. Entre os canabinoides, está a Cannabis, que é uma planta versátil e varia em estrutura, sabor, aroma e efeitos. Suas sementes, flores e fibras são usadas para diferentes fins. Das primeiras, são feitos alimentos. Das segundas, medicamentos. Já das últimas, cordames e velames de navios.

Compostos ativos

Os canabinoides mais conhecidos e usados na Medicina são o canabidiol (CBD) e o tetrahidrocanabinol (THC). Porém, a planta conta com outros, como THCA (ácido tetrahidrocanabinol), CBG (Canabigerol) e CBC (Canabichromene).

Além disso, existem outros 1.495 compostos disponíveis na planta. O e-book de observações e experiências clínicas do médico Mario Luiz Grieco, Cannabis Medicinal, os lista detalhadamente. São eles:

  • 91 esteroides;
  • 46 polifenóis;
  • 49 flavonoides glicosados;
  • 19 flavonoides;
  • 121 terpenoides;
  • 110 terpenos;
  • 177 canabinoides;
  • 882 compostos ainda não estudados.

Visibilidade na Medicina

O canabinoide ganha destaque por sua eficácia na hora de tratar determinadas condições humanas. Conforme a Cartilha da Associação Brasileira de Apoio Cannabis Esperança (ABRACE), existem diversos motivos que levam pacientes a reduzir ou substituir o uso de medicações tradicionais por essa classe química. Alguns exemplos incluem:

  • efeitos colaterais pouco nocivos;
  • não causa dependência;
  • custo reduzido;
  • benefícios mais efetivos e ágeis.

O documento também explica como os compostos agem no organismo. Os humanos contam com o Sistema Endocanabinoide, que é uma rede de receptores. Os dois principais são o CB1 e o CB2, localizados, respectivamente, no sistema nervoso central e periférico e no sistema imunológico.

Devido a isso, doenças como autismo e epilepsia, e sintomas como ansiedade, irritabilidade e comportamento agitado, podem ser abordados pela perspectiva da Cannabis Medicinal. Além disso, o uso do canabinoide reduz crises convulsivas, melhora o desenvolvimento neuropsicomotor, entre outros efeitos.

Quais são os tipos existentes e seus efeitos terapêuticos?

Os canabinoides são responsáveis pelos efeitos terapêuticos e psicoativos da Cannabis. Pela afinidade que têm com o corpo, ajudam o organismo a manter um estado de homeostase, equilíbrio dinâmico biológico necessário para seu bom funcionamento. Alguns dos canabinoides existentes estão descritos a seguir. Confira!

THC (Tetrahidrocanabinol)

Substância que se liga aos receptores cerebrais e atua sob o estresse, a dor e a náusea. É comumente usado no combate à insônia e no estímulo do apetite.

CBD (Canabidiol)

É o composto mais usado em pacientes com epilepsia. Contudo, também é empregado frequentemente no combate aos espasmos causados pela esclerose múltipla. Pode ser recomendado a idosos e crianças, por não oferecer efeitos psicoativos.

THCA (ácido tetrahidrocanabinol)

Também não oferece efeitos psicoativos. É o canabinoide mais encontrado na planta e oferta diversos efeitos, em especial quando consumido de modo bruto — como por meio de suco. Alguns deles incluem:

  • estímulo do apetite;
  • diminuição da proliferação de células cancerosas;
  • tratamento aos pacientes que sofrem com anorexia nervosa e caquexia.

CBC (Canabichromene)

Assim como os dois anteriores, é um canabinoide não psicoativo. Ele incentiva a viabilidade de que células cerebrais se desenvolvam em neurogênese — assim como o CBD e o THC. Inclusive, ele costuma ser mais eficiente ao ser combinado com eles, por não ativar os receptores endocanabinoides do organismo. Além disso, seus efeitos são significativos em termos do combate à inflamação e às células cancerígenas e tumorais.

CBN (Canabinol)

Esse composto é considerado pouco psicoativo e atua principalmente como um sedativo, bem como um indutor de sono. Em adição, pode ser usado no alívio da dor causada pela artrite, doença de Crohn e demais inflamações, no equilíbrio do sistema imunológico e na diminuição da pressão intraocular causada pelo glaucoma.

Quais são as principais polêmicas sobre o seu uso?

A primeira polêmica em relação ao uso dos ativos terapêuticos da planta diz respeito à diferenciação entre as aplicações medicinal e recreativa. O uso medicinal da Cannabis — e consequentemente, dos canabinoides — tem comprovação científica em sua proposta. Contudo, conta com alguns desafios para ser amplamente disponibilizada.

Um deles é o fato de muitos não fazerem essa diferenciação. Assim, acreditam que a aplicação da planta de forma controlada, individualizada e autorizada por profissionais poderia culminar em dependência química ou contribuir com o tráfico ilegal, o que é falso. No Brasil, a regulamentação do uso dos produtos de Cannabis obriga a presença de prescrição médica.

Além disso, há o fato de a farmacologia do canabinoide ser complexa, o que impacta os cuidados na posologia. Dessa maneira, não é simples encontrar a dosagem ideal para o paciente — o que exige que cada vez mais especialistas no assunto entrem em cena. É nesse momento que a importância do profissional de saúde ganha destaque. Ao se aperfeiçoarem, os médicos podem fazer a diferença na vida de pacientes que sofrem com dores crônicas e demais dificuldades debilitantes.

Por fim, há o fato de a comercialização de produtos de qualidade ainda ser limitada. Contudo, o futuro é promissor: de 2015 a 2020, mais de 15 mil pacientes receberam autorização para importar o produto. Em adição, a quantidade de médicos prescritores ultrapassa 1300.

Por que é importante se especializar em relação ao uso da cannabis medicinal?

Conforme visto, o uso dos canabinoides ainda é muito recente no Brasil e causa muitas dúvidas e polêmicas. Entretanto, em função do papel importante que o uso medicinal da Cannabis no Brasil exerce no tratamento de diversas enfermidades e patologias, é fundamental se aprofundar no tema.

Segundo o e-book do Dr. Grieco, 38% dos usuários da planta para fins medicinais relatam insatisfação com os medicamentos já em uso. Além disso, 10% pretendem diminuir o número de fármacos utilizados no tratamento de alguma condição médica, enquanto 7% o fazem por sofrer com os sintomas adversos de alguns medicamentos.

Dito isso, Grieco aponta: “independentemente da percepção e do ponto de vista de cada pessoa, negar ou simplesmente desconsiderar a importância desta extraordinária planta é incompreensível e irracional. Os médicos devem ser informados, treinados e capacitados para conhecerem e lançarem mão dessa valiosa opção terapêutica”.

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